Operação exemplar demonstra a força da colaboração para salvar espécies ameaçadas de extinção na região norte do Pará.
Um filhote de peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis), espécie classificada como ameaçada de extinção, foi resgatado na quarta-feira (24) na Vila São José, em Santa Cruz do Arari, no Arquipélago do Marajó (PA). A ação contou com a mobilização imediata de comunitários, órgãos públicos e organizações ambientais, reforçando a importância da vigilância coletiva para a conservação da biodiversidade amazônica.
Resgate colaborativo: do alerta à estabilização
A operação foi iniciada após moradores da região avistarem o animal em situação de risco e acionarem a Prefeitura de Soure e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio). O Instituto Bicho D’água, especializado em fauna aquática, orientou remotamente os primeiros cuidados, incluindo a preparação de uma fórmula alimentar específica para manter o filhote estável.
No mesmo dia, o animal foi transportado de barco até Cachoeira do Arari, com apoio logístico da Polícia Militar, seguindo protocolos rigorosos para minimizar o estresse durante o deslocamento. “O envolvimento rápido da comunidade foi decisivo para o sucesso dessa missão”, destacou Osiane Barbosa, gerente do Escritório Regional do Marajó Oriental do Ideflor-Bio.
Caminho para a reabilitação
Na quinta-feira (25), equipes do Ideflor-Bio e do Instituto Bicho D’água transferiram o filhote para a Base de Estabilização de Fauna em Belém, onde passará por avaliação clínica e cuidados iniciais. Posteriormente, o animal seguirá para o Centro de Reabilitação de Fauna Aquática em Castanhal (PA), onde receberá acompanhamento veterinário contínuo e dieta controlada até estar apto para retornar à natureza.
O filhote integra agora o Programa de Conservação do Peixe-Boi-da-Amazônia, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Ibama. A iniciativa visa recuperar populações da espécie, cujo declínio está associado à caça ilegal, à degradação de habitats e a acidentes com redes de pesca.
Um modelo de conservação comunitária
A operação destacou o papel fundamental das comunidades ribeirinhas na proteção ambiental. “Esse caso é um exemplo de como diálogo, ciência e participação social podem reverter cenários críticos”, afirmou Osiane Barbosa. A mobilização rápida e a expertise técnica garantiram não apenas o resgate, mas a possibilidade de reinserção do animal em seu habitat natural.
Por que isso importa?
O peixe-boi-da-Amazônia é um termômetro da saúde dos ecossistemas fluviais. Sua preservação impacta diretamente a manutenção de rios e igarapés, essenciais para milhares de famílias na região. O sucesso dessa ação reforça a urgência de políticas públicas que fortaleçam redes de proteção comunitárias e investimentos em centros de reabilitação.
Saiba mais:
- Ameaças à espécie: Listada como vulnerável pelo ICMBio, a população de peixes-boi-da-Amazônia enfrenta riscos como poluição, desmatamento e conflitos com atividades humanas.
- Como ajudar: Denúncias de animais silvestres em perigo podem ser feitas via linhas diretas de órgãos ambientais ou pelo número 190.
Este resgate não é apenas uma vitória pontual, mas um modelo a ser replicado em outras regiões da Amazônia, onde a sobrevivência de espécies depende cada vez mais da união entre conhecimento tradicional e ciência.